História, identidade e memória: ad-mirando experiências de vida
História, identidade e memória: ad-mirando experiências de vida
Coordenação geral
Dilma Antunes Silva; Ana Paula Santiago do Nascimento.
Professoras Responsáveis
Aline Cerqueira Nunes Mendes; Ana Lúcia de Menezes; Andrea Cláudia Rocha da Silveira, Sandra Aparecida Ferreira da Silva Pazinatto
Professoras Parceiras
Caroline Cassiano Vieira e Bruna Cristina Rodrigues Andrade (CEI direto Prefeitura de São Paulo); Claudia Meire Rodrigues (CEI direto Prefeitura de São José dos Campos).
Breve apresentação
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!
(Eduardo Galeano, Livro dos Afetos, 1991/2002, p. 12)
Eduardo Galeano conta sobre a experiência de um menino que diante do mar ficou extasiado, contemplando sua imensidão e beleza. Essa cena nos remete à relação vivida junto/com os bebês, em que se exige dos profissionais a capacidade de encantar-se e de produzir para e com o grupo de crianças, diferentes formas de encantamento. Olhar o desconhecido, concebê-lo, senti-lo de modo que possam maravilhar-se com as diferentes e inúmeras possibilidades que a vida e as experiências cotidianas podem oferecer. Assim, é aprender a contemplar, compreendido como uma necessidade humana, como potencialidade, como fonte de (re)conhecimento de si, do outro, do meio e da própria vida em sua complexidade e mistério. Ao propormos o trabalho com Memórias junto às turmas de berçários, queremos conhecer as histórias dos/das bebês que inauguram uma importante etapa de suas vidas- o ingresso em instituições escolares. Muitos/as nasceram no contexto da pandemia, pouco se relacionaram com outras crianças ou com outras pessoas adultas que não fossem seus familiares. E cá estamos nós, em 2022, iniciando um ano letivo, esperançando e buscando nos (re)conectar. Esperançar é como caminhar para além das dunas altas, na certeza e com o desejo de alcançar o mar. Nesse sentido, esta proposta de ação, envolvendo docentes, famílias e bebês, buscará compartilhar histórias, memórias e experiências de vida,visando a construção potente de laços, enredos e outras narrativas de vida.
Esta proposta tem como inspiração e vinculação institucional, o Projeto de Extensão 50 anos da Paulistinha: partir da história, aprovado em setembro de 2020 pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (ProEC) da Unifesp. Também compreende o Projeto Institucional do NEI-EPE, que versará sobre a Educação para o cuidado do mundo. As ações do Projeto "História, identidade e memória: ad-mirando experiências de vida" dos/das bebês e crianças bem pequenininhas abrangem turmas de berçários do NEI-EPE e se estendem a outras unidades parceiras. Assim, serão cinco turmas de bebês em três unidades educacionais, sendo uma da rede municipal de São Paulo, uma da Rede municipal de São José dos Campos, além de nossa unidade, cujas professoras são responsáveis pela condução dos processos formativos, acompanhamento e avaliação das ações do Projeto.
Objetivos
Esta proposta educativa, a ser desenvolvida junto ao agrupamento do Berçário II, tem como objetivos gerais: 1. firmar e confirmar o lugar dos bebês e crianças bem pequenininhas como sujeitos históricos, sociais e protagonistas de aprendizagens e descobertas potencializadoras do desenvolvimento em seu aspecto global; 2. possibilitar momentos e experiências que favoreçam a reflexão sobre como, desde muito cedo, os bebês constroem suas memórias e como elas impactam na formação identitária, quer seja de cada indivíduo ou do grupo. Entre os objetivos específicos, propomos: contribuir para o desenvolvimento de comportamentos positivos em relação à percepção de si mesmos e dos outros; valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos.
Fundamentação teórica
Como Braga (2020, p.3), “vimos tentando apurar conceitualmente a relação entre memória, narrativa e experiência, ao mesmo tempo em que articulamos os estudos teóricos a práticas de pesquisa, ensino e formação num contexto educacional”. Barbosa (2010), nos ajuda nessa busca, uma vez que seu estudo possibilita refletir sobre as convergências e tensões presentes no campo da formação e do trabalho docente, nos liames da pesquisa sobre memória, identidade e a constituição dos sujeitos na creche, etapa educativa que compreende a faixa etária dos bebês, até os 3 anos e 11 meses. Segundo a autora, esta etapa é compreendida como espaço de interações privilegiado para o desenvolvimento da memória. Esta, vista “como algo que se apóia na história vivida, relacionada diretamente à construção das identidades individuais e coletivas, destacando a íntima relação entre sujeito e memória.”
Metodologia
O trabalho na Primeiríssima Infância adota como princípio a concepção de criança como sujeito potente, inventivo, criativo, capaz, e possuidor de direitos como fixam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI- BRASIL, 2009) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC- BRASIL, 2018). Para o andamento deste Projeto, que conta com a participação das famílias em diferentes etapas, serão realizadas reuniões periódicas entre as docentes responsáveis para o planejamento, acompanhamento, avaliação e reorganização das ações, visando à oferta de vivências significativas às crianças da nossa turma.
A metodologia empregada privilegia métodos qualitativos e tem como pressuposto fundamental contribuir para a formação integral dos sujeitos envolvidos no Projeto. A diversificação de estratégias possibilitará aos participantes um enriquecimento formativo, cultural e científico, estimulando o interesse e a ampliação de competências necessárias ao fazer pedagógico e científico. Entre as estratégias metodológicas, teremos: a articulação com docentes do NEI Paulistinha, videoconferências, produção de materiais etc. São ideias disparadoras da ação:
- escrita de cartas pelas educadoras contando sobre o período de adaptação, destacando singularidades de cada bebê/criança bem pequenininha.
- convite às famílias para nos contarem sobre a história de vida dos seus filhos. Nessa fase utilizaremos como inspiração a letra da música “Só eu sou eu”, de Marcelo Jeneci.
- construção de um painel afetivo, denominado “Teia da Vida” contendo informações sobre as crianças (hábitos, preferências, o que sabem; seus gostos/do que não gostam, passeios… etc.).
- elaboração de um caderno itinerante de lembranças e memórias.
- construção de um baú de memórias, onde reuniremos e guardaremos objetos, registros e outras materialidades de grande valor às famílias e que remetem à história de vida da criança
Bibliografia
BARBOSA, S.N. F. Memória, identidade e a constituição do sujeito na creche. In: XV Endipe Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, . Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: políticas e práticas educacionais, Belo Horizonte, MG: 2010. Disponível em: https://grupoinfoc.com.br/publicacoes/congressos/c06_BARBOSA_S.N.F_MEMORIA_IDENTIDADE_E_O_SUJEITO_NA_CRECHE.pdf
BRAGA, Elisabeth dos Santos. Memorial Solano Trindade: sentidos da relação escola/comunidade no cotidiano da formação docente. Revista Iberoamericana do Patrimônio Histórico - Educativo, Campinas (SP), v. 6, p. 1-40, e020034, 2020. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ridphe/article/view/14843/9878> . Acesso em: 03 fev. 2021.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo Nexos: história das instituições educativas. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, Portugal: 2004.
POLLAK, M. Memória e Identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro., vol.5, n.10, 1992, p. 200-212.
SILVA, D. A.; NASCIMENTO, A. P. S.; VIEIRA, A. L. . Paulistinha 50 anos: história, identidade e memórias. In: VII Congresso Acadêmico da Unifesp: Universidade em defesa da vida, 2021, Online. Anais [...https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61519.